Se “informação é o petróleo do século XXI”, não são poucas as instituições que buscam usar esse importante recurso para alavancar seus negócios. E, nessa busca desenfreada pelo uso otimizado da informação, um dos temas mais debatidos hoje em dia no mundo dos negócios é Data Science, ou Ciência de Dados. 

Intimamente ligado a Big Data, Data Science abrange o estudo de dados de dois tipos: estruturados (cuja tipologia é clara, como recursos financeiros, de logística, etc.) ou não estruturados (como os das redes sociais). Ambos têm ajudado empresas a lidar com questões que vão desde a criação de produtos até o gerenciamento da experiência final do cliente. 

Para saber mais sobre isso, preparamos uma entrevista especial com Marconi de Medeiros – CEO da beAnalytic, startup potiguar especializada em Big Data e Business Intelligence (BI) – que vai falar mais sobre como a Ciência de Dados pode ajudar o seu negócio. 

 

Parque: Marconi, é verdade que qualquer empresa pode utilizar serviços de análise e processamento de dados?

Marconi: Não. É necessário que a empresa já tenha um background de estrutura de dados, afinal, precisamos trabalhar com eles. Muitas vezes, precisamos indicar parceiros para desenvolver esse ecossistema e, assim, preparar a empresa para o trabalho de Ciência de Dados. Dessa forma, incia-se uma cultura que ajudará a implementação desse tipo de serviço. Outro aspecto que às vezes atrapalha é a dificuldade de se obter um panorama completo da empresa. Muitos dos clientes não possuem acessos aos dados de seus fornecedores e, quando isso acontece, complica o andamento do trabalho.

 

Parque: Então esse trabalho é focado em instituições de um setor específico? 

Marconi: Não há um setor específico, mas um exemplo de segmento muito interessante de se aplicar a Ciência de Dados é o varejo, porque ele tem uma riqueza de métricas e lida muito com a experiência de usuários.

 

Parque: Quem não tem conhecimento sobre dados consegue entender os apontamentos? O que é preciso ter em mente ao solicitar o serviço?

Marconi: Sempre que é realizado um serviço de Big Data, é necessário ter empatia com o cliente. Entender quem é ele, sua formação, o que ele busca, a fim de poder passar um diagnóstico mais claro possível. Alguns gestores têm em mente qual o problema da empresa, mas, às vezes, durante o diagnóstico, descobrimos que a causa de determinada fraqueza ou empecilho é outra.

 

Parque: Conte-nos como acontece a implementação de Data Science junto ao cliente

Marconi: Primeiro, são realizados dois diagnósticos, um técnico e um subjetivo. O diagnóstico técnico é realizado com tecnologia, através de análise de banco de dados da própria empresa, e o subjetivo é feito por meio de entrevistas com colaboradores da instituição. A partir dos resultados obtidos, são traçados os apontamentos que precisam ser trabalhados e, posteriormente, damos andamento à implantação efetiva.

 

Parque: E que profissionais da beAnalytic são envolvidos nessa implementação?É necessário capacitar os funcionários da instituição cliente?

Marconi: Atualmente, 25% da nossa empresa é formada por profissionais de TI, o restante, 75%, é composto por funcionários de outras áreas, como engenharia. Eu sou engenheiro de produção. A parte da “mão na massa’’, o trabalho com os dados, a captação, é feita pelos profissionais de TI, mas a parte de consultoria e do negócio em si é realizada por esses outros 75%. Apesar do nosso intuito ser o de oferecer um serviço contínuo, a autonomia para a sua realização pelos próprios funcionários da empresa depende muito. Inicialmente, isso só é possível se a instituição já possuir uma certa experiência com Data Science. Caso não, ficamos mais à frente e, à medida em que o processo vai se tornando mais natural, os funcionários tendem, eles mesmos, a dar continuidade ao trabalho.

 

Parque: Sabemos que existem os dados estruturados e os não estruturados. No caso de empresas de marketing e de instituições que fazem uso desses dados não estruturados, que se alteram com uma maior velocidade, como são traçadas as estratégias de Data Science?

Marconi: Cada empresa tem que focar em uma estratégia básica. Ter e-commerce, por exemplo, é uma das ferramentas que ajuda no background. Uma sacada interessante que tivemos ao analisar o comportamento de diversos clientes em compras on-line é que estes muitas vezes buscam um produto inicial, mas acabam comprando outro. Então, nesse caso, uma das estratégias possíveis é justamente focar os anúncios nesse produto inicial, que, mesmo não sendo a compra final, atrai clientes para o site. É importante fazer Roll Up contínuo desses dados e clientes. Muitas informações são obtidas on-line através do Analytics, mas é necessário entender como aplicar. É necessário entender a experiência dos usuários para pensar nas estratégias.

 

Parque: Todas as formas de captação de dados são feitas por meio de tecnologias digitais?

Marconi: Algumas formas de captação de dados são feitas presencialmente, através de cupom e sorteios, e funcionam muito bem. Por isso, é importante pensar no negócio e no público a que ele se direciona e usar a tecnologia como um auxílio. Outra questão que deve ser levada em conta são características como região, hábito, idade, dentre outros. Estes critérios são importantes para diferenciar o tipo de estratégia a ser utilizada pela empresa.

 

Parque: Marconi, que sugestão você dá para quem se interessa em trabalhar com análise de dados? 

Marconi: 50% dos projetos de Ciência de Dados fracassam. Por isso, o ideal é que se tenha uma equipe voltada, também, para a parte de negócios em si e não só tecnologia. Apesar de existir uma infinidade de dados atualmente, muitas das decisões são tomadas com base em análises estratégicas de negócio.

 

Parque: E na pandemia, como está sendo a procura por Data Science pelos clientes e quais são as projeções para o futuro?

Marconi: Durante a pandemia, nós passamos por um crescimento de 16% a 20% em nosso número de demandas e a ideia é aumentar cada vez mais. Possuímos clientes no Nordeste e no Sudeste. Neste, esse tipo de serviço já vinha sendo feito, mas pelas mãos de poucos. Já aqui no Nordeste, isso é algo novo, existe pouco investimento em tecnologia e a possibilidade de crescimento é esperada. Aliás, investir em tecnologia é algo que traz bons Retornos sobre Investimento (ROI) e a pandemia promoveu uma aceleração por essa busca. As empresas tiveram que adaptar seus negócios frente a experiência do usuário e, com isso, aplicar Ciência de Dados. Com o tempo, o consumo de dados vai se tornar algo tão natural que até alunos de ensino médio terão um acesso fácil a esse tipo de trabalho. O desafio daqui para frente e, também, nossa meta, é construir ferramentas que possam automatizar todos esses processos.

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