Desenvolvida por pesquisadores e cientistas, a bioinformática tem potencial para mudar o mundo dos negócios. Não acredita? Pois saiba que essa área, assim como outras vinculadas à biociência, tem contribuído para o surgimento de produtos, serviços e mecanismos genéticos capazes de inovar segmentos mercadológicos inteiros e, consequentemente, criar empresas de grande representatividade mundial.

Aliás, a bioinformática tornou-se o principal pilar das atividades vinculadas às ciências da vida, dada a quantidade absurdamente alta de dados gerados nesses estudos, conforme aponta o professor Sandro José de Souza, sócio-fundador da DUNA Bioinformatics – startup especializada em serviços e produtos do ramo.

Desse modo, neste post, reunimos cinco fatos que você precisa saber para criar (ou ao menos cogitar criar) um negócio promissor em bioinformática e seguir nessa onda que só tem a crescer nos próximos anos.

1. Os nichos de mercado são variados

A bioinformática está intimamente ligada à biociência, que, por sua vez, apresenta uma variedade considerável de opções para quem quer empreender. Fazem parte desse grupo alguns nichos específicos, como bioenergia, produção de insumos para estudos de DNA, meio ambiente, entre outros.

No entanto, segundo a diretora de negócios da empresa de biotecnologia Portunus, Isis Eich, os campos de atuação que mais tem recebido investimentos externos são Saúde e Agricultura.

Na área da Saúde, tanto humana como animal, ganha destaque a produção de medicamentos. Por meio da bioinformática, é possível realizar simulações computacionais que aceleram, e muito, a produção de fármacos, o que, tradicionalmente, pode levar mais de uma década para serem concluídos.

Já na agricultura, a aposta está na biologia sintética – prática baseada na engenharia e na ciência computacional que visa desenhar e fabricar componentes biológicos que ainda não existem no mundo natural.

No ramo do agronegócio, ganha destaque o melhoramento de cultivares e a otimização de rotas metabólicas que aumentam a eficácia das plantações ao reduzir perdas dos produtos alimentares.

2. Covid-19: uma demanda de abrangência mundial

Recentemente, pesquisadores do Centro Multiusuário de Bioinformática (BioME/IMD) publicaram dois estudos na Scientific Reports – período do grupo Nature Research, uma das maiores revistas científicas do mundo – os quais, graças à bioinformática, abrem portas para quem deseja empreender, especialmente durante a pandemia de Covid-19.

Isso porque ambos os estudos reúnem informações e mecanismos validados em laboratório capazes de auxiliar no tratamento e na identificação eficaz da nova doença.

O primeiro estudo – intitulado “A Small Interfering RNA (siRNA) Databse for SARS-Cov-2” – oferece um catálogo completo com todas as sequências de siRNAs (ou RNAs de interferência) capazes de inativar o SARS-CoV-2. Essas informações são o principal insumo para quem deseja dar a largada na corrida mundial de desenvolvimento de fármacos para a Covid-19.

Já o segundo artigo se atém à criação de primers inéditos – pequenos pedaços de DNA utilizados nas reações Polymerase Chain Reaction (PCR) para identificação do vírus no organismo.

Esses novos mecanismos, testados em bioinformática na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), são capazes de aumentar a assertividade das testagens de Covid-19, de maneira a evitar erros de diagnóstico como os casos de “falso negativo”.

3. A bioinformática abrange serviços diversificados

Como visto acima, quando o assunto é biociência, os exemplos de produtos e serviços são vários e abrangem diversas áreas de produção. Em bioinformática especificamente, o que mais tem sido demandado, segundo Sandro José de Souza, são os serviços relacionados ao sequenciamento de DNA.

“Nos últimos 15 anos, houve um grande avanço nas tecnologias de sequenciamento, o que tem gerado uma demanda muito grande por bioinformática, dada a quantidade elevada de dados inerentes a essa atividade. Além disso, existe uma demanda crescente para a área de integração e mineração de dados com o uso de análises mais sofisticadas de computação, como Inteligência Artificial”, conta Souza.

Um exemplo disso é a própria DUNA Bioinformatics, que abrange em seu catálogo de serviços sequenciamento de nova geração (NGS), proteômica (estudo de expressões e modificações de proteínas mediante análise em larga escala), desenvolvimento e otimização de pipelines e consultorias.

Segundo Gisele Tomazella, diretora de operações da DUNA, o preço por um serviço em bioinformática é bastante variado.

“Um serviço pode custar R$ 500, R$ 50 mil ou até ter um custo mensal. Depende bastante da necessidade do cliente, mas a precificação normalmente é feita com base na quantidade de horas a serem trabalhadas e no volume computacional necessário para atender a demanda”, explica a diretora.

4. A área requer mão de obra especializada

Assim como em todo trabalho de TI, dominar linguagens de programação é importante na bioinformática. Mas isso não é tudo. Segundo o professor Gustavo de Souza, diretor do BioME, para se trabalhar com dados biológicos, é fundamental o conhecimento (ou ao menos a compreensão) de eventos e de processos em biologia.

“Geralmente, os alunos que mais se destacam em bioinformática são aqueles que dominam bem a biologia, mesmo não sendo, necessariamente, biólogos ou biomédicos”, explica o docente.

Ou seja, por mais óbvio que possa parecer, não basta saber de computação – conhecimento adquirido, por exemplo, em graduações de TI –, em bioinformática, a “bio” é, sim, essencial.

“E se o profissional vai desenvolver produtos para um hospital, por exemplo, é preciso ter conhecimento sobre os aspectos clínicos de doenças e sobre outros processos, como classificação de pacientes e rotinas médicas”, acrescenta Gustavo de Souza.

Além disso, as instituições que mais demandam os serviços de bioinformática hoje são instituições da área da Saúde, conforme aponta o professor Sandro José de Souza.

“A oferta é bastante diversificada e pode se destinar a grupos acadêmicos ou até a empresas de matriz biotecnológica. Mas a Saúde é, atualmente, uma das que mais demandam soluções de bioinformática, apesar de percebemos, sim, uma diversificação cada vez maior no interesse e na procura”, ressalta Souza.

5. Os financiamentos podem ser indispensáveis

Um possível caminho para quem está interessado em inciar um negócio em bioinformática é o financiamento. Por ser uma área que requer muita pesquisa e empenho científico, os empreendedores desse campo acabam por demandar bastante recursos monetários para custear seus trabalhos.

Sendo assim, uma boa forma de angariar tudo isso é se inscrever em seleções regidas por editais de fomento, especialmente os que garantem investimentos de fundo perdido – aqueles que não exigem reembolso por parte dos vencedores.

Exemplos de instituições que promovem editais como esse são o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), Finep, CNPq, Fapesp, entre outras.

Mas, como quase tudo em bioinformática, os recursos financeiros e de infraestrutura necessários para o novo empreendimento também podem variar. Isso porque, dependendo do caso, o empreendedor pode tanto precisar de apenas um computador pessoal para trabalhar como de um supercomputador, com altas capacidades de processamento.

Segundo o professor Gustavo de Souza, se você está apenas desenvolvendo um programa, por exemplo, não é preciso trabalhar com um grande volume de dados e, quando chegar a hora de validar seu produto, é possível alugar apenas uma nuvem de processamento, como a da Amazon.

“Ou seja, dá para começar pequeno, fazer os primeiros testes e padronizações sem ter que investir pesado em computação. Se, por acaso, você descobrir um potencial comercial grande no seu projeto e precisar fazer mais testes, você pode abrir uma startup, arranjar um financiador, firmar colaborações, entre outras alternativas”, pontua o diretor.